Sou
morador do Capão Redondo, e isto por si só é uma definição. Não sei o que é
viver em outro lugar, conviver com outras pessoas. Os problemas deste bairro
confundem-se com os meus, os lugares, as ruelas, as vielas, os escadões, são
partes integrantes do meu ser.
No ano de 1981, ano em que nasci,
meu pai já morava aqui a pelo menos uns vinte anos. O terreno onde morávamos
foi por ele adquirido em 1966, com dinheiro que conseguiu vendendo biscoito de
polvilho no Parque do Ibirapuera, mas meus avós já moravam aqui desde quando
chegaram do Nordeste. É por isto que afirmo que não conheço outra localidade,
só conheço o Capão.
Até a década de 1990, quase não
havia ruas asfaltadas, no nosso bairro, eram todas de terra. Perto da minha
casa, apenas a rua, Alfredo Ometecídio tinha asfalto, e ir brincar lá era um
passeio de fim de semana. Todo sábado minha mãe permitia que brincássemos uma
hora de bicicleta no “Asfalto”, este era o ponto máximo de nossa “vida”
naqueles tempos.
E foi neste misto de aventura e
desventura que minha infância teve curso no Capão. E são estes momentos que
pretendo descrever neste blog, sem pretensões elevadas, mais com um olhar sobre
minhas memorias de infância, de um bairro que não era maravilhoso, que possuía
e, ainda possui, muitas mazelas sociais, mas que deu abrigo para várias
crianças de minha geração. Crescemos cauterizados, sem ler esta realidade cruel
que nos circundavam, e que fizeram daqueles os melhores momentos de minha
história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário